* Por Pedro Persichetti, sócio fundador, VP e CSO da Sail Capital
Quando se olham os números do agronegócio brasileiro, verifica-se que o setor é uma locomotiva econômica: apenas ele responde por 23,2% do PIB (Cepea/CNA) e da quase metade das exportações (49%), de acordo com dados de 2024 do Ministério da Agricultura e Pesca.
O agro cresce, mesmo tendo de conciliar a expansão com condições restritas de acesso ao crédito bancário. A burocracia e as elevadas taxas de juros são os principais obstáculos da modalidade, mas é justamente nesse cenário que alternativas financeiras vêm ganhando espaço no mercado, oferecendo aos produtores soluções mais competitivas e adaptadas às suas necessidades.
Além de essencial, o planejamento financeiro no agro é um desafio histórico para encontrar capital acessível. Prova disso é que os produtores rurais tradicionalmente recorrem mais ao próprio setor do que às instituições financeiras para captar recursos. Segundo a Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), 40% das empresas agro financiam suas operações diretamente com fornecedores, enquanto apenas 20% utilizam crédito bancário (13% de bancos privados e 7% de públicos).
Também procuradas, as modalidades de securitização, como CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), FIDCs (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) e CDCAs (Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio) ainda têm participação reduzida, sendo acessadas por apenas 6%, 3% e 1% dos produtores, respectivamente.
Além do crédito bancário
Para contornar as dificuldades impostas pelo crédito bancário tradicional, alternativas como os consórcios imobiliários, por exemplo, vêm se destacando. A modalidade permite que o produtor rural capte até 70% do valor de suas terras e imóveis em capital novo, com uma taxa de 0,4% ao mês, inferior às taxas praticadas em financiamentos convencionais.
A gestão tributária também é uma opção relevante. Com um planejamento adequado, é possível gerar deságio de até 30% sobre os impostos devidos. Isso garante mais liquidez ao produtor e melhor fluxo de caixa.
Também é importante considerar a mitigação de riscos. O agronegócio está sujeito a eventos climáticos e empresariais imprevistos, por isso é importante considerar o uso de seguros para lavouras, construções, maquinários e pessoas-chave. Tudo isso assegura a continuidade das operações e minimiza impactos financeiros.
Planejamento e personalização
É indiscutível que o acesso ao capital é essencial para a continuidade e aceleração do crescimento do agronegócio brasileiro. Pelo desenvolvimento e diversificação do mercado financeiro brasileiro, é possível olhar além dos formatos tradicionais e encontrar soluções personalizadas e eficazes de capitalização.
Nesse contexto, familiarizar-se com opções como consórcios imobiliários, planejamento tributário e securitização ajudam a ampliar o leque de possibilidades financeiras no agro. Mesmo as modalidades de securitização, embora tenham participação reduzida no financiamento do agronegócio, são alternativas estratégicas para produtores e empresas que buscam capital com maior flexibilidade e menores custos.
Do crédito bancário aos consórcios imobiliários, o leque de opções é grande para todos os portes de produtores rurais. A chave é o planejamento financeiro adequado e assessoria especializada, para que os produtores possam estruturar operações de capitalização eficientes e sustentáveis e, com isso, seguir contribuindo com a trajetória de crescimento do agro.
* Pedro Persichetti é sócio fundador, VP e CSO da Sail Capital